Um dos meus primeiros gestos ao acordar é abrir a janela e debruçar-me – em silêncio – no parapeito predisposta a consentir que a natureza me fale. Abstenho-me do betão e dos fios de electricidade que me circundam e fixo-me mais além, por entre a fresta que me abre ao horizonte e me agita a dormência com pinceladas de existência.
Estes pequenos momentos alimentam e repõem no meu coração a gratidão pelo dom da vida. Dádiva que por ser efémera merece de mim um acréscimo de vibração que me prepara para receber o presente de mais um dia como uma página em branco onde me defino, depuro e apuro.
Ser grata é a base para desenvolver o que tenho e sou com um olhar desprendido do meu umbigo, porquanto confirmo a minha pequenez; é permitir que a vida me abane interiormente sem ficar inerte perante a necessidade de recuo ou avanço; é conseguir a proeza de exultar de alegria diante de pequenas coisas e sentir-me abençoada perante elas.
É que estar vivo é muito mais do que nos mexermos como autómatos à espera do fim anunciado; Estar vivo é descruzar os braços e estende-los em busca de outros e prosseguir com a certeza de que Aquele que nos deu a vida caminha connosco.
Fica esta frase do Monsenhor Jonas Abib:
"Senhor dá-me a graça de ser, hoje, tudo aquilo que eu devo ser".
Dulce Gomes
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