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sábado, dezembro 07, 2013

...Kanimambo...

Comovente Tributo a Mandela, feito pelo amigo e professor português Barros Dias, da Universidade de Évora (PT).

"Carta a Madiba" by J. M. de Barros Dias

Subitamente, Madiba, o canto límpido do bokmakierie ficou embargado. Madiba já não está entre nós! A esta hora em que teu cérebro está prestes a tornar-se terra de nossa mãe África, tu és, agora, parte dos nossos maiores. A par de Reinaldo Frederico Gungunhana, Kwame Nkrumah, Eduardo Chivambo Mondlane, Julius Nyerere, Josina Machel, Léopold Sédar Senghor, tu, meu irmão cocuana, acabas de tornar-te Luz indelével que nos guia rumo ao Futuro. 
Eras tu o preso n.º 46664 quando eu, criança enfezada e muito doente, fui salvo da bruta morte pelos médicos da África do Sul. Aprendi então, vivendo na nossa muito amada cidade de Joanesburgo, mas também em Durban, Cape Town, Port Elizabeth e em Nelspruit, o significado do conceito de apartheid. Apartheid era aquela coisa estranha, para mufana como eu, segundo a qual só se sentava no banco de jardim quem tinha cor de boer, de branco que usava chibata; apartheid, estava escrito em todo o lado, era aquilo que fazia de alguns senhores e dos mais escravos que viviam para limpar o lixo das ruas e executar todo o tipo de tarefas servis. Apartheid era, também, a impante família Botha. 
Tu tinhas, Madiba, todas as razões para te teres tornado um homem ruim, vingativo, até. O modo como somos tratados, pelos poderosos, quase que nos leva naturalmente, geração após geração, a sermos, em África, idiotas de catana na mão, querendo vingar as humilhações que nos infligiram. Tu, em contrapartida, filho da Luz, fizeste do país dos irmãos desavindos a nação arco-íris. Teceste pontes de Esperança, onde só havia muros de ódio e de exclusão. É esta a razão pela qual nós, hoje, do bokmakierie aos leões do Parque Kruger, passando pelos coqueiros, te choramos, derramando lágrimas incontidas. 
Mas, Madiba, eu que da nação dos Vátuas sou nascido, aprendi xironga (ou landim, como diziam depreciativamente os colonos) antes de aprender português. Com minha irmã, Fátima Maria, foi igual. É, pois, como teu compatriota do Império do Monomotapa, que ingleses e portugueses separaram de maneira cruel, que eu te me curvo ante a tua memória. Tu foste, em vida, a Razão Maior da inclusão e da fraternidade. Tu serás, para quantos nos cruzámos contigo, a força inspiradora para lutarmos por um mundo melhor e mais justo, um mundo no qual nenhum humano primará sobre nenhum outro ser humano em dignidade e direitos. Eu tenho para mim, Presidente Nelson Mandela, que o seu legado não reside na obra grandiosa que nos deixou, enquanto político, mas sim na Glória do Testemunho, da qual foi lídimo protagonista. O Snr, Nelson Rolihlahla Mandela, Madiba, estará conosco por todo o sempre. À sombra de cada cajueiro, na reunião de cada aldeia, seja qual for a tribo, você será o Espírito iluminante do nosso cocuana mais sábio, o Espírito avisador da Paz, portanto. 
Amanhã, quando o Sol voltar a iluminar a savana, Madiba, o bokmakierie vai voltar a encher os nossos corações de alegria. O legado do prisioneiro n.º 46664, Madiba, são o Perdão, a Verdade e a Bondade como exemplos de vida. Por isso, curvando-me ante o seu exemplo de Cidadão Imortal da Humanidade, eu me despeço, hoje, com uma palavra, uma única palavra de homenagem: 
Kanimambo!

Nelson Mandela que Deus te proteja

faleceu a 05/12/2013



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